Tecnologia de produção de caquis
Rafael Pio
Caqui (Diospyros Kaki)
Fruta milenar, era considerada, na antigüidade, um dos alimentos preferidos dos deuses. Dizia-se que sua origem divina vinha do fato de refletir a luz do sol. De origem asiática, gosta de climas temperados, mas se deu bem no Brasil. Rica em vitaminas A e C, é muito saborosa. Cuidado com as sementes, são abortivas.
Perfil da cultura
O caquizeiro (Diospyros kaki L.) é um fruto delicado e degustado basicamente “in natura”, concentrando boas quantidades de vitaminas A, B e C. O teor de açúcar, que varia entre 14 e 18%, supera o da maioria das frutas. Além do consumo como fruta fresca, o caqui pode ser industrializado no preparo de vinagre e caqui-passas.
Deve-se ressaltar que esta cultura é uma excelente alternativa na diversificação de propriedades frutícolas, devido ser um fruto de grande aceitação popular e também por ser uma planta bastante rústica, vigorosa e produtiva. Há relatos que o caquizeiro pode produzir por até 40 anos, isso dependendo dos corretos tratamentos culturais e fitossanitários.
Aspectos econômicos
O caquizeiro é cultivado no Brasil principalmente nas regiões Sul e Sudeste, com destaque para os Estados de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e nas regiões Sul de Minas Gerais. No Estado de São Paulo, os municípios que se destacam na produção de caqui são: Mogi das Cruzes, Guararema, Biritiba Mirim, Salesópolis, Suzano e Santa Isabel. Outros municípios produtores são: Jacareí, Ibiúna, Pindamonhangaba, Piedade, Pilar do Sul, São Miguel do Arcanjo, Capão Bonito, Guapiara e Wenceslau Braz. O Estado de São Paulo possui cerca de 4196 ha cultivados com caqui (LUPA-CATI, 1995/96; IBGE, 2002), sendo responsável por 92% das 43,7 mil toneladas de caqui recebidas pelo Entreposto Terminal de São Paulo da CEAGESP, sendo a variedade Rama Forte a mais comercializada (28 mil toneladas).
No mercado interno, o consumo de caqui está aumentando progressivamente devido às suas qualidades e preços relativamente acessíveis. Nos últimos anos, houve uma maior procura por frutos de caqui não taninosos, cujos frutos são de boa consistência, podendo atingir mercados mais distantes e serem cotados com melhores preços. Já no mercado externo, o caqui possui grande aceitação, especialmente no Japão, alcançando preços relativamente compensadores.
A colheita do caquizeiro ocorre de fevereiro a junho, com picos de produção nos meses de março e abril. Vale ressaltar que os preços são relativamente menores nos meses de pico de produção, devido a grande escassez de frutos no mercado neste período. Caso o produtor consiga programar a produção fora dos picos de produção, conseqüentemente conseguirá melhores preços.
Créditos da foto: Cátia Simone
Características da planta
O caquizeiro é uma planta de porte arbóreo que pode atingir até 12 metros de altura, possuindo copa arredondada e ramificada. Apresenta um desenvolvimento inicial lento, chegando a atingir a maturidade por volta de 7 a 8 anos, mas possuindo uma durabilidade de dezenas de anos. As folhas são de coloração verde-brilhante e caem no inverno (caducas). As gemas são inseridas nas axilas das folhas, são de formato cônico e pontiagudas. As flores são de coloração branco-amareladas, surgindo nas axilas das folhas no período da primavera e no verão. As flores masculinas são pequenas (0,8 a 1,8 cm de comprimento) e encontram-se reunidas em cachos de três a cinco flores; as femininas são maiores (1,5 a 2,5 cm de comprimento) e solitárias; as hermafroditas, que são raras, surgem sempre associadas às flores masculinas. No entanto, o caquizeiro pode, em alguns casos, ser considerado uma planta dióica (produzem apenas flores masculinas ou femininas) e em outros casos monóicas (flores de ambos os sexos).
Quanto à frutificação, algumas variedades possuem tendência de produção de frutos partenocárpicos, ou seja, sem sementes. Os frutos do caquizeiro são de formatos esféricos, levemente achatados, podendo ser de coloração amarelo-claro, amarelo-escuro, laranja, vermelho, roxo-claro ou roxo-escuro. A polpa é viscosa de coloração vermelho-alaranjada. As sementes, quando existentes, são achatadas e de coloração castanha.
Cultivares
São muitas as variedades e os tipos de caquis existentes. Basicamente são cultivados, no Brasil, três tipos de caqui: taninosos ou Shibugaki, não taninosos ou Amagaki e variáveis.
A classificação das variedades de caqui é feita pela expressão do sexo e pela adstringência do fruto até a colheita. Em relação à adstringência (sensação de prender a língua) da polpa nas variedades pertencentes ao grupo Shibugaki, a polpa é muito adstringente quando verdes. Naquelas do grupo Variável, os frutos sem sementes são adstringentes, enquanto aqueles com sementes podem exibir menor adstringência quanto maior o número de sementes. Isso se deve ao fato das sementes maduras liberarem substâncias (fenóis) que insolubilizam o tanino que é responsável pela adstringência, proporcionando a cor parda à polpa (Chocolate). Aqueles do grupo Amagaki,,/i> também chamados de caquis doce, não apresentam adstringência.
1. Taninosos ou Shibugaki
São de coloração amarela quando maduros, podendo ou não ter sementes. Dentre os caquis do grupo Shibugaki destacam-se as seguintes variedades: Coração de Boi, Costata, Hachiya, Pomelo, Rubi, Taubaté e Trakoukaki.
‘Pomelo’ (IAC 6-22): Esta é a variedade de maturação mais precoce. As plantas são vigorosas e bastante produtivas e, apesar de possuir grande quantidade de flores masculinas, não se presta como variedade polinizadora em razão da época em que ocorre sua florada. Os frutos são grandes (160 g) e globulosos, com sabor agradável, apresentando o inconveniente de possuírem muitas sementes.
‘Taubaté’: Essa é a variedade mais cultivada no Estado de São Paulo, porém está sendo substituída pelo ‘Rama Forte’. Suas plantas são vigorosas e bastantes produtivas. Os frutos são grandes (180 g), globulosos e de boa aparência. Apresentam o inconveniente de quebrar os galhos facilmente perto da maturação, necessitando de escoramento, tendência do rachamento da película do fruto e o defeito de amolecerem rapidamente após a destanização. Podem ser utilizados para a produção de passas pelo processamento industrial.
2. Não Taninosos ou Amagaki
São os caquis doces ou não taninosos, de polpa firme e mais amarelos quando maduros, podendo ou não terem sementes.
‘Fuyu’: Esta é a variedade doce mais cultivada e a variedade mais importante, sendo o caqui mais requisitado para a exportação. Suas plantas são de porte médio, com boa produção, exigentes de clima ameno e tratos culturais específicos, para uma frutificação regular e com qualidade superior. Esta variedade necessita de plantas polinizadoras, ocorrendo queda de flores quando localizadas distantes das plantas polinizadoras. Os frutos são grandes, globulosos-achatados, com polpa crocante, excelente qualidade e boa conservação.
‘Jirô’: As plantas são de porte médio, com produção um pouco inferior as demais variedades doces e bastante exigentes de tratos culturais adequados e clima ameno, sem os quais não frutificam adequadamente. Seus frutos são grandes (180 g), achatados, com polpa firme e saborosa.
3. Variáveis
São os caquis que podem ser tanto ter polpa amarela, com sabor adstringente e não possuir sementes, como ter polpa escura, sabor doce e possuir sementes. Dentre os caquis do grupo Variável, destacam-se as seguintes variedades: Giombo, Kaoru, Mazeli, Kyoto, Rama Forte e Ushida.
‘Giombo’: O caqui ‘Giombo’ é conhecido popularmente como caqui chocolate. As plantas desta variedade são bastante vigorosas e extremamente produtivas, de maturação tardia e necessita de raleio dos frutos para a produção de frutos maiores. Os frutos são de tamanho médio (140 g), formado oval e com polpa crocante, permanecendo firmes quando destanizados. Esta variedade pode ser utilizada para a produção de caqui-passa.
‘Rama Forte’: Esta é uma variedade de caqui que vêm se expandindo bastante na região Sudeste. A planta é vigorosa e bastante produtiva. Os frutos são de tamanho médio (130 g), achatado, com polpa mole, taninosos na maioria das vezes, de sabor bastante agradável e bem consistente, mesmo após o processo de destanização.
Produção de mudas
O método de propagação usual utilizado para a cultura do caqui é a enxertia, não sendo viável a formação de caquizais através da utilização de mudas provenientes de sementes ou estacas.
Poda
As plantas devem ser podadas ao final do inverno, no período que saírem da dormência, um pouco antes de iniciar o surgimento das brotações. A poda de encurtamento dos ramos deve ser evitada nas plantas adultas, uma vez que a frutificação ocorre sempre nos ramos do ano e os frutos se originam nas gemas terminais dos ramos do ano anterior. O ponto mais importante da poda anual é reconhecer as duas ou três gemas localizadas na extremidade dos ramos ao final da estação hibernal, que contem as gemas florais. Caso não seja feita a poda anual em plantas adultas de caquizeiro, o excesso de ramos, que ocasionalmente irão promover excesso de frutificação, promoverá quebra de galhos, resultando em prejuízos na produção e arquitetura da planta.
Assim, a poda das plantas adultas deve se constituir num raleio de ramos, devendo eliminar o excesso dos ramos, os ramos mal localizados, doentes e secos, os quais são eliminados pela base. Vale ressaltar que nenhuma frutificação irá ocorrer caso seja feita uma poda drástica e também podas muito severas, que podem reduzir a frutificação, devido ao forçamento de um crescimento vegetativo excessivo.
Os frutos tendem a cair da planta precocemente se não receberem insolação suficiente. Isso é importante para conduzir a planta ao longo das podas hibernais, promovendo a formação de uma arquitetura de copa adequada, bem aberta e baixa, o que também facilitará os tratos culturais e a colheita.
Desbrotas periódicas devem ser realizadas, pelo menos duas durante o ano, eliminando-se os brotos em excesso.
Vale ressaltar que sempre após a realização da poda, deve-se pincelar o local podado com pasta bordaleza, para assim evitar-se a contaminação da planta por doenças e pragas.
Adubação
Segundo análise do solo. Deve-se aplicar todos os anos, após a colheita, 10 L de esterco de curral curtido por planta e os fertilizantes necessários, deve-se atentar ao potássio, já que esse fruto e muito rico nesse elemento e as plantas geralmente apresentam sintomas de deficiência.
Raleio dos Frutos
Após a queda natural dos frutos, se necessário, se faz a raleação dos frutos, que tem o objetivo de melhorar a qualidade dos frutos remanescentes, propiciando assim a formação de frutos maiores, mais vigorosos e com maior aceitação pelos consumidores.
Deve-se eliminar os frutos menores, doentes, mal localizados (voltados para cima), evitando assim a queima pelo sol. Os frutos devem ficar bem distanciados para que não toquem um no outro quando atingirem o tamanho máximo.
Escoramento dos Ramos
Tem o objetivo de promover o suporte de elevadas cargas de frutos em plantas adultas, para que suportem o peso dos frutos, evitando a quebra dos galhos mais abertos e carregados. Deve ser realizado quando os frutos encontram-se ainda de pequeno tamanho.
As escoras são fixadas no chão e, de preferência, na extremidade superior devem ter uma forquilha, onde se apoiará o ramo a ser sustentado. Também pode ser utilizado o escoramento por braçadeiras, onde os ramos mais fracos são sustentados pelos mais fortes, por meio de arames.
Quebra de Dormência
Esta prática tem como objetivo permitir que a planta saia do período de dormência, o que ocorre durante o período frio do ano (inverno). Deve-se pulverizar a planta com Dormex (cianamida hidrogenada) a 2% mais 1% de óleo mineral, com pulverizações dirigidas nas gemas produtivas e não nas gemas vegetativas, pois senão os ramos vegetativos brotarão antes dos ramos produtivos, podendo atrasar ainda mais a produção.
Doenças
Mancha das folhas (Cercospora kaki), Antracnose (Colletotrichum gloeosporioides) e Galha da coroa (Agrobacterium tumefaciens).
Pragas
Mosca-das-frutas (Anastrepha spp. e Ceratitis capitata), Lagarta do fruto (Hypocala andremona), Tripes (Heliothrips haemorrhoidalis) e Cochonilha (Pseudococcus comstocki).
Colheita e destanização
De um modo geral, uma planta inicia-se a produção por volta do terceiro ano de idade, chegando a produzir cerca de 100 a 150 Kg de frutos por ano. A colheita dos frutos deve ser realizada quando estes perdem a coloração esverdeada e adquirem coloração amarelo-avermelhada, sendo a seguir transferidos para galpões onde serão classificados e embalados.
Todos os caquis do tipo sibugaki e os do tipo variável sem sementes apresentam polpa taninosa, mesmo quando maduros e, em razão disto, uma vez colhidos, precisam sofrer o processo de destanização para que seja eliminada a adstringência, bastante desagradável ao paladar.
No caso de pequenas quantidades de frutos, o tratamento mais utilizado é a aplicação de uma colher de chá de vinagre (ácido acético) ou álcool no cálice dos frutos recém-colhidos e dispostos em tabuleiros ou bandejas. Após quatro dias a adstringência é eliminada. Já no caso de culturas comerciais, o fruticultor deve estar preparado para realizar a destanização em grandes quantidades de frutos, devendo construir uma estufa ou câmara de maturação. As substâncias mais utilizadas na destanização são o acetileno, monóxido de carbono resultante da combustão da serragem, vapores de álcool e etileno. Os caquis devem ser removidos após quatro dias, chegando a ponto de maturação naturalmente.
Partes utilizadas: Casca do tronco, folhas e frutos.
Propriedades medicinais do caqui
O caquizeiro, árvore da família das Ebenáceas, é originário da China, da Coréia e do Japão. Por alusão à cor do fruto, “caqui” em japonês significa “amarelo escuro”.
Ajuda a tratar de: Anemias, debilidade orgânica, diarréia, disturbios estomacais, estresse, fadiga, feridas, infecções urinárias e prostatites.
– Tem ação como calmante, vermífugo e laxativo, é recomendado no combate a gastrite infantil, contra problemas de fígado.
– Excelente alimento para tuberculosos, anêmicos, desnutridos e descalcificados.
Utilidades Medicinais:
Doença da Bexiga – Fazer algumas refeições exclusivas de caqui, ou de suco de caqui com um pouco de água, sem açúcar.
Cãibras – Recomenda-se empiricamente, comer dois ou três caquis por dia.
Constipação Intestinal – Fazer algumas refeições exclusivas de caqui. Pode substituir o jantar. Não comer em excesso.
Doenças das Vias Respiratórias – Recomenda-se cozinhar a polpa do caqui com água em um pouco de
mel. Mexer bem e tomar meia xícara deste líquido xaroposo, morno, várias vezes ao dia.
Plantio do caquizeiro
Receitas com caqui
Caquizeiro
Caqui no Brasil
Fontes: http://www.todafruta.com.br/todafruta/mostra_conteudo.asp?conteudo=16178 às 18:25 de 17 de março de 2008.
Essencial – Um guia prático para cuidar da saúde, Editora Nova Cultural Ltda, São Paulo, 2001.
www.todafruta.com.br – Data Edição: 07/07/04 e 15/10/07
Curso Básico de Fruticultura – Engº. Agroº. Marco Moro – Escritório Regional da EMATER – Pelotas/RS – 2006.
* Engenheiro Agrônomo, D.Sc., Professor Adjunto da Universidade Estadual do Oeste do Paraná-UNIOESTE, Marechal Cândido Rondon (PR). E-mail: rafaelpio@hotmail.com
Bibliografia:
As Frutas na Medicina Natural
Alfons Balbach
Daniel S. F. Boarim
Edição Vida Plena
(XX11) 464-3888 – Itaquaquecetuba – SP.