Mirtilo
Autor: Pierre Vilela
Esta fruta exótica de clima temperado apresenta grande potencial para produção no Brasil
O alto teor de pigmentos antocianos – substâncias com poder antioxidante e preventivas de doenças degenerativas , seu sabor único e sua cor inconfundível são fatores que atraem diretamente o consumidor.
Nome popular da fruta: Mirtilo (uva-do-monte)
Nome científico: Vaccinium sp.
Origem: América do Norte
Fruto: O fruto é do tipo baga, de cor azul intensa quando maduro, recoberto de cera, com diâmetro entre 1,5 a 2,5 cm de diâmetro e 1,5 a 4 g de peso. Possui muitas sementes de pequeno tamanho e polpa de sabor doce-ácido.
Planta: O mirtilo é uma espécie arbustiva ou rasteira e caducifólia, com 1,5 a 3 metros de altura, de clima temperado e exigente em frio para quebra da dormência. Produz em ramos de ano, em grupamentos de frutos que amadurecem de forma irregular no ramo, exigindo várias colheitas seletivas para retirar somente os frutos maduros.
Cultivo: O mirtilo foi introduzido no Brasil em 1983. A espécie trazida ao Brasil foi a Vaccinium ashei, também conhecida como “rabbiteye” (olho-de-coelho, devido à cor vermelha dos frutos imaturos), de menor exigência em frio.
Há muitas espécies de mirtilo, sendo que as que possuem expressão comercial são divididas em três grupos, de acordo com o genótipo, hábito de crescimento, tipo de fruto produzido e outras características. Os grupos são:
"Highbush" (mirtilo gigante): Originário da costa oeste da América do Norte. Sua produção, dentre os demais grupos, é a de melhor qualidade, tanto em tamanho quanto em sabor dos frutos. A principal espécie deste grupo é Vaccinium corymbosum L.. As espécies V. australe e V. darrowi são usadas para fins de melhoramento genético.
"rabbiteye": Originário do sul da América do Norte. Tem como representante a espécie Vaccinium ashei Reade. Em relação ao grupo anterior, produz frutos de menor tamanho e de menor qualidade. Apresenta maior produção por planta e seus frutos têm uma maior conservação em pós-colheita. Apresenta maior importância comercial em regiões com menor disponibilidade de frio, por causa da sua tolerância a temperaturas mais elevadas e à deficiência hídrica.
"lowbush": Tem hábito de crescimento rasteiro e produz frutos de pequeno tamanho, presta-se ao processamento.
Usos: Os frutos podem ser utilizados para consumo “in natura” ou na forma de geléias, suco, fruta congelada, iogurte, polpa e licor.
O mirtilo tem sua popularidade e interesse pelos consumidores associados às propriedades funcionais da fruta, que a tornaram conhecida como “fruta da longevidade”. O alto teor de pigmentos antocianos, substâncias com poder antioxidante e preventivas de doenças degenerativas, seu sabor único e sua cor inconfundível são fatores que atraem diretamente o consumidor.
Mercado: O baixo volume de produção no país limita o mercado ao fruto fresco, inclusive para exportação. O potencial industrial ainda não é explorado.
Alguns fatores importantes dificultam a expansão da cultura no Brasil. Destacam-se:
o desconhecimento da cultura e de suas práticas por técnicos e produtores, exigindo a habilitação prévia destes para que as áreas de produção sejam econômicas; as limitações tecnológicas existentes, devido as
poucas pesquisas e informações disponíveis no Brasil.
Segundo especialistas, as principais limitações tecnológicas para esta cultura no país são: poucas cultivares adaptadas, baixa produção de mudas, baixo desenvolvimento inicial das mudas no viveiro pós-enraizamento e no campo, manejo da planta, irrigação, manejo fitossanitário e o risco de ocorrência de novas pragas ou doenças e a etapa de colheita e manejo pós-colheita da fruta. Observa-se em algumas regiões a baixa acumulação de frio e os invernos amenos, com alternância de temperaturas como outra limitação.
Salienta-se, também, a necessidade de estruturação do sistema produtivo e dos canais de comercialização, as limitações de logística para mercado interno e externo e a baixa organização dos produtores.
Orientações Gerais:
Alexandre Hoffmann, Embrapa Uva e Vinho
Luís Eduardo C. Antunes, Embrapa Clima Temperado
1. Formas de Propagação
Estacas enraizadas ou micropropagação (cultivo "in vitro"). Usar preferencialmente mudas de dois anos de viveiro, pois as mudas de 1 ano tendem a ter pouco desenvolvimento no campo e a perda de mudas após o plantio pode ser elevada.
2. Solo
O mirtilo exige solo bem drenado, poroso, com boa fertilidade, elevado teor de matéria orgânica e pH entre 4,5 a 5,2. É recomendado o uso de fertilizantes orgânicos e condicionantes físicos do solo (serragem curtida ou material equivalente). A irrigação é importante para evitar perdas após o plantio e para assegurar produção constante e de boa qualidade. Não é recomendado o uso de calcário.
3. Época do plantio
As mudas devem ser transplantadas no inverno, quando estiverem em dormência.
4. Regiões preferenciais para o cultivo
O mirtilo é uma espécie frutífera de clima temperado, que necessita de frio no inverno para quebra da dormência. Portanto, regiões com pouca acumulação de frio (inferior a 300 horas abaixo de 7,2oC na média dos anos) tenderão a ter maiores problemas de adaptação das plantas. As regiões mais indicadas são as que apresentam acumulação de frio superior a 500 horas anuais. Porém, a adaptação está diretamente associada à exigência de cada cultivar. Em regiões com menor acumulação de frio, recomenda-se as espécies Vaccinium ashei (rabbiteye) e a espécie V. corymbosum.
5. Espaçamento
Recomenda-se espaçamento entre 1,20 a 1,50 m entre plantas e 3,00 m entre linhas (o espaçamento entre linhas dependerá da utilizalização de máquinas, conforme a largura dos equipamentos utilizados).
6. Custo de implantação x produção
Com relação aos custos o que mais onera a produção é o preço da muda, cerca de R$ 5,00 a unidade, o que perfaz R$ 11 mil reais para o cultivo de um hectare. Considerados os demais gastos de implantação e manutenção do pomar nos primeiros dois anos, período em que não há produção, o valor sobe para R$ 20 mil reais. A produtividade varia de seis a dez toneladas por hectare, conforme a região. O preço máximo pago pelo quilo da fruta é de R$ 20,00.
Fontes: http://www.sebrae.com.br/setor/fruticultura/o-setor/frutas/mirtilo/mirtilo-104.6/BIA_1046/integra_bia às 19:34 de 01 de abril de 2008.
http://www.cnpuv.embrapa.br/publica/artigos/como_cultivar_mirtilo.pdf às 19:26 de 01 de abril de 2008.
Fenologia, produção e qualidade de frutos de mirtilo
Luis Eduardo Corrêa Antunes(1), Emerson Dias Gonçalves(2), Nara Cristina Ristow(1),
Silvia Carpenedo(1) e Renato Trevisan(3)
(1)Embrapa Clima Temperado, Caixa Postal 403, CEP 96001-970 Pelotas, RS. E-mail: antunes@cpact.embrapa.br, ncristow@cpact.embrapa.br,
s.carpenedo@hotmail.com (2)Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais, Fazenda Experimental de Maria da Fé, Bairro Vargedo,
CEP 35517-000 Maria da Fé, MG. E-mail: emerson@epamig.br (3)Universidade Federal de Santa Maria, Colégio Agrícola de Frederico
Westphalen, Caixa Postal 54, CEP 98400-00 Frederico Westphalen, RS. E-mail: renato.trevisan@smail.ufsm.br
Resumo – O objetivo deste trabalho foi avaliar o comportamento fenológico, a produtividade e a qualidade de oito cultivares de mirtilo do grupo rabbiteye (Bluegem, Bluebelle, Powderblue, Florida, Delite, Briteblue,
Climax e Woodard), na região de Pelotas, RS. O trabalho foi realizado durante os ciclos produtivos de 2003/2004, 2004/2005 e 2005/2006. As plantas foram dispostas no pomar em blocos varietais aleatórios, com 16 plantas
por cultivar, no total de quatro linhas, com duas cultivares por linha. Para a análise das características dos frutos, a média de cada ano de avaliação foi considerada como uma repetição. Foram observadas as datas de
início e fi m da floração, início e final de colheita, massa, diâmetro longitudinal dos frutos, número de frutos por
planta, teor de sólidos solúveis totais, produção média por planta e produtividade estimada por hectare. Não houve diferença entre as cultivares avaliadas quanto às características massa, diâmetro médio de frutos e teores
de sólidos solúveis totais. Na região de Pelotas, há viabilidade técnica para o cultivo de mirtilo, cujas cultivares Bluebelle, Briteblue e Bluegem são as mais produtivas.
Termos para indexação: Vaccinium, adaptação, pequenas frutas, produtividade, qualidade dos frutos.
Phenology, production and quality of blueberry cultivars
Abstract – The aim of this work was to evaluate the yield and quality of blueberry cultivars from the rabbiteye
group (Bluegem, Bluebelle, Powderblue, Florida, Delite, Briteblue, Climax and Woodard), in Pelotas County,
Southern of Rio Grande do Sul State, Brazil, during three growing seasons: 2003/2004, 2004/2005 and
2005/2006. The plants were set in randomized varietal blocks in the orchard, with 16 plants per cultivar,
totaling four lines, with two cultivars per line. For statistic analysis of the fruits characteristics, each year
of evaluation was considered as one repetition. The characteristics evaluated were the start and the end of
flowering, beginning and end of harvest, mass, longitudinal diameter of fruits, number of fruit per plant, content
of total soluble solids, average production by plant, and the estimated productivity per hectare. There was no
difference among the cultivars evaluated for the characteristics mass, mean diameter of fruits and levels of
total soluble solids. In the region of Pelotas, there is technical viability for growing blueberry, whose cultivars
Bluebelle, Briteblue and Bluegem are the most productive.
Index terms: Vaccinium, adaptation, small fruits, produtivity, fruit quality.
Introdução
Introdução
O mirtilo é uma frutífera que pertence a família
Ericaceae, e é classifi cado dentro da subfamília
Vaccinioideae, na qual se encontra o gênero Vaccinium
(Trehane, 2004). O mirtileiro produz frutos com
diâmetro entre 8 e 22 mm, de sabor agridoce
(Childers & Lyrene, 2006), com diversas propriedades
nutracêuticas e alto potencial antioxidante, em razão
da presença de compostos fenólicos (Kalt et al., 2007).
Para seu adequado desenvolvimento, são necessários
solos com pH entre 4,8 e 5,2 (Trehane, 2004; Childers & Lyrene, 2006).
No mundo, existem três grupos principais de mirtilo
cultivados comercialmente: os de arbustos baixos –
“lowbush”; os de arbustos altos – “highbush”; e os do
tipo olho-de-coelho – “rabbiteye” (Childers & Lyrene,
2006; Strik, 2007).
O cultivo comercial do mirtilo está em franca
expansão em países da América do Sul como Chile,
Argentina e Uruguai, com área de produção de
aproximadamente 6.500 ha. A expansão da cultura
nesses países é infl uenciada, em grande parte, pela
demanda da entressafra de países do hemisfério norte
como os Estados Unidos (Strik, 2005; Brazelton &
Strik, 2007). Essas demandas de mercado podemgerar oportunidades de negócio para o setor produtivo
brasileiro, desde que haja adoção de tecnologia para
a produção e a utilização de cultivares adequadas
(Antunes & Madail, 2005).
No Brasil, as principais cultivares pertencem ao
grupo rabitteye (Antunes & Raseira, 2006). Apresentam
como características: elevado vigor, plantas longevas,
alta produtividade, tolerância ao calor e à seca, baixa
exigência na estação fria, fl oração precoce, longo
período entre fl oração e maturação (Ehlenfeldt et al.,
2007) e frutos fi rmes, com longa vida pós-colheita se
conservados adequadamente. Entre as limitações das
cultivares desse grupo, destaca-se a completa coloração
do fruto antes do ponto ideal de colheita, que interfere
no sabor, e é quando se apresentam mais ácidos e com
tendência a rachar a epiderme em períodos chuvosos
(Gough, 1994).
Se o acúmulo de horas de frio hibernal for insufi ciente,
a depender da necessidade da cultivar, pode-se ter
como conseqüência a brotação e o fl orescimento
defi cientes e, conseqüentemente, a reduzida produção.
Esta variação quanto à necessidade de frio entre as
cultivares faz com que possa haver escalonamento da
produção, desde que sejam utilizadas, numa mesma
área, cultivares de maturação precoce, de meia-estação
e tardia (Bowling, 2000).
As épocas de fl oração e maturação podem variar,
conforme o ano e o local (NeSmith, 2006; Smolarz,
2006; Hummer et al., 2007). Assim, antes de se
escolher a cultivar, é importante a realização de
estudos fenológicos da cultura que podem tornar
disponíveis informações necessárias para determinar
quais cultivares são mais adaptadas às condições
edafoclimáticas locais (Silva et al., 2006), e quais são
os períodos de concentração da produção, diminuindose
os riscos de insucesso com a cultura.
A escolha das cultivares, em razão das fenofases é
fundamental, pois proporciona: o escalonamento da
produção; o aumento do período de oferta de frutos
ao mercado; e a adaptação das tecnologias disponíveis
àquela cultivar e região (Silva et al., 2006).
NeSmith (2006), ao estudar a fenologia de variedades
de mirtilo em diferentes locais, concluiu que a depender
da cultivar, do acúmulo de horas de frio do local e do
ano de avaliação, o período de fl orescimento pode
variar em até 24 dias.
O objetivo deste trabalho foi avaliar o comportamento
fenológico, a produção e a qualidade de frutos de oito
cultivares de mirtilo, na região de Pelotas, RS.
Material e Métodos
O trabalho foi realizado na Estação Experimental da
Cascata, na região colonial de Pelotas, RS, da Embrapa
Clima Temperado, a 31°37'15,57"S, 52°31'30,77"W
e 164 m de altitude, por três safras consecutivas:
ciclo produtivo 2003/2004, 2004/2005 e 2005/2006.
As avaliações foram realizadas em plantas de mirtilo
do grupo rabbiteye, nas cultivares: Bluebelle, Bluegem,
Climax, Briteblue, Woordard, Delite, Powderblue e Florida.
As cultivares foram dispostas aleatoriamente no pomar,
no total de quatro linhas, com duas cultivares por linha e
16 plantas por cultivar. Para a análise das características
dos frutos, a média de cada ano (três) foi considerada
como repetição. Esta coleção foi mantida sob manejo
agroecológico, sem a aplicação de insumos sintéticos.
As avaliações fenológicas foram realizadas de acordo
com a descrição dos estádios de desenvolvimento de
gema (Childers & Lyrene, 2006), nas datas de início da
fl oração (mais de 5% das fl ores abertas), fi m da fl oração
(90% das fl ores abertas), início e fi nal da colheita.
Os frutos foram colhidos quando estavam no
estágio de maturação completa (Childers & Lyrene,
2006), com coloração violeta e presença de pruína,
em cestas de plástico e, em seguida, foram levados ao
Laboratório de Melhoramento Genético, da Embrapa
Clima Temperado, para as avaliações de: massa fresca
por fruto (g); diâmetro longitudinal dos frutos (cm),
com auxílio de paquímetro digital; número de frutos;
e teor de sólidos solúveis totais (oBrix), com auxílio
de refratômetro digital de bancada. A produção média
por planta (kg por planta) e a produtividade estimada
por hectare (kg ha-1) foram determinadas com base na
densidade de 2.222 plantas ha-1 (com espaçamento de
3 m entre linhas e 1,5 m entre plantas), no número de
frutos por planta e na massa fresca por fruto.
Os dados das variáveis analisadas foram submetidos
à análise de variância, posteriormente comparadas pelo
teste de Scott-Knott, a 5% de probabilidade, por meio
do SISVAR (Ferrreira, 2000).
Resultados e Discussão
Em geral, o período de fl orescimento teve início no
mês de agosto, na primeira quinzena, no ciclo 2005/2006,
e na segunda quinzena desse mesmo, nos ciclos de
2003/2004 e 2004/2005. O fi nal da fl oração ocorreu no
primeiro ciclo de avaliação (2003/2004), entre o fi nal
de setembro e a primeira quinzena de outubro, em quea cultivar Delite foi a mais precoce. No segundo ciclo
avaliado (2004/2005), o fi nal da fl oração ocorreu na
segunda quinzena de setembro em todas as cultivares.
Entretanto, no último ciclo de avaliação, as cultivares
Florida, Woordard e Bluebelle, terminaram o fl orescimento
na primeira quinzena de setembro, e as demais cultivares
na segunda quinzena de outubro (Tabela 1). Esta alteração
no padrão de fl orescimento ocorreu em razão: das
variações anuais no acúmulo em horas de frio (Tabela 2);
das oscilações de temperatura ocorridas entre maio e
setembro (Tabela 2); e das necessidades de temperaturas
baixas de cada cultivar (Childers & Lyrene, 2006).
Pelas avaliações realizadas nos três ciclos produtivos,
quase todas as cultivares iniciaram a brotação a partir da
segunda quinzena de agosto, com exceção das cultivares
Powderblue e Woodard, que a iniciaram no começo de
setembro (Tabela 1), provavelmente em razão de estas cultivares necessitarem de 400 horas de temperaturas
baixas (Childers & Lyrene, 2006), superior às demais e
satisfeita apenas ao fi nal do inverno da região.
Baptista et al. (2006) verifi caram diferença no
período de fl orescimento, entre as cultivares de
mirtilo do grupo Southern highbush, em que a cultivar
O´Neal foi a mais precoce, e Georgiagem e Revielle
as mais tardias. Esta variação no padrão fenológico
é conseqüência das características genéticas de cada
cultivar e de fenômenos climáticos como temperatura e
fotoperíodo, que interferem na fl oração e brotação. Além
disso, o próprio sistema de produção adotado pode alterar
características intrínsecas da cultivar, como observado por
Swain & Darnell (2002), e modifi ca o padrão produtivo e
fi siológico da planta. Também a forma de condução das
plantas jovens (Williamson & NeSmith, 2007), se não
realizada corretamente, resulta na formação de plantas
debilitadas e com baixa produção.
Na média dos três anos de avaliações, o período
de colheita estendeu-se por 37 dias, entre dezembro
e janeiro; o menor período de colheita ocorreu no
primeiro ciclo de avaliação, com 21 dias nas cultivares
Delite, Florida e Climax; e o maior período obtido
no terceiro ciclo (48 dias), em 'Bluegem', 'Delite',
'Florida', 'Powderblue' e 'Bluebelle' (Tabela 1). Esta
variação pode ter ocorrido em razão da fl utuação de
temperatura, entre os anos de avaliação; em 2005,
segundo ano de avaliação, o acúmulo de horas de frio
foi de 276, abaixo da média dos anos anteriores, que foi
superior às 400 horas necessárias para essas cultivares,
segundo Childers & Lyrene (2006).
Beccaro et al. (2003) ao avaliar 34 cultivares de
mirtilo, dos grupos highbush, Southern highbush e
rabbiteye, na região do Piemonte (Itália), obtiveram
64 dias de colheita nas cultivares precoces Bluetta e
tardias Elliot, o que demonstra a importância do cultivo
de cultivares que possam ampliar o período de colheita e oferta de frutas ao mercado consumidor. O período
de colheita das cultivares estudadas concentrou-se nos
meses de dezembro e janeiro.
Do ponto de vista de exportação dos frutos de mirtilo,
as grandes oportunidades de preço foram obtidos entre
meados de outubro e de novembro (20 a 25 US$ kg-1 –
CIF). Antes ou depois desse período, os preços foram
menores (10 a 12 US$ kg-1 – CIF), no mercado de Miami
(Fizsman, 2005). As cultivares avaliadas no presente
trabalho possuem período de colheita inadequado para
a exportação. Entretanto, as possibilidades de atender
ao mercado interno são promissoras, uma vez que a
oferta de frutos dessas cultivares se dá nos meses
próximos das festas natalinas, época em que ocorre
grande procura pelos mesmos.
Em relação às características físicas (Tabela 3), as
maiores produções (kg por planta) foram obtidas pelas
cultivares Briteblue (1,63), Bluebelle (1,63) e Bluegem
(1,25). As menores foram obtidas pelas cultivares
Powderblue (1,02), Woodard (0,67), Delite (0,61) e
Climax (0,35). Essa produção pode ser extrapolada para
o potencial de produtividade, que coloca as cultivares
Bluebelle (3.703 kg ha-1), Briteblue (3.629 kg ha-1) e
Bluegem (2.770 kg ha-1) como as de maior potencial
de exploração, na região de Pelotas, sob regime de
produção agroecológica. A diferença apresentada pelas
cultivares pode ser conseqüência de fatores intrínsecos
à própria adaptação, como a necessidade de baixas
temperaturas e variações climáticas locais (Tabela 2), e
a problemas relacionados à polinização, como descrito
por NeSmith (2002), que relacionou a reduzida
frutifi cação efetiva à defi ciência de polinização na
cultivar Tifblue, do grupo rabbiteye.
Clique aqui para ver a tabela 2
As médias de massa de matéria fresca e diâmetro
longitudinal dos frutos, entre as cultivares, foram
semelhantes estatisticamente, mesmo com a variação
ocorrida nos índices de produção, o que poderia
colaborar para alteração da relação fonte e dreno,
ou seja, em cultivares com menor produção, os frutos
poderiam apresentar maior tamanho e massa de matéria
fresca. Entretanto, essa tendência não foi observada,
mesmo em 'Bluebelle' (1.588), 'Briteblue'(1.301) e
'Blueguem' (1.033) que produziram maior número
de frutos por planta, e naqueles de menor produção
de frutos como 'Climax' (250), 'Woodard' (530),
'Powderblue' (720) e 'Flórida' (750) (Tabela 3).
Carter et al. (2002) avaliaram cinco cultivares de
mirtilo, dos grupos highbush, e uma cultivar do
grupo rabitteye, em Arkansas (EUA), e observaram
diferenças signifi cativas entre os grupos nos quatro
ciclos de avaliação, quanto às características
tamanho de fruto, produção por hectare, vigor entre
plantas, sanidade e qualidade dos frutos (cor, fi rmeza
e aroma). No presente trabalho não houve diferença
signifi cativa entre as cultivares avaliadas, quanto ao
teor de sólidos solúveis totais (Tabela 3), cuja média
foi 13,20°Brix.
Outros trabalhos com mirtilo (Carter et al., 2002;
Swain & Darnell, 2002; Beccaro et al., 2003; Smolarz,
2006) sobre introdução, avaliação fenológica e produtiva
vêm sendo realizados no mundo. As informações técnicas,
geradas nesses trabalhos, viabilizam a elaboração do
zoneamento agroclimático e indicam cultivares mais
adaptadas às condições locais, o que reduz as possibilidades
de erros de implantação. Em razão das constantes
modifi cações climáticas atuais, que descaracterizamzonas típicas de clima temperado, em especial, com a
redução da disponibilidade de frio hibernal (Wrege et al.,
2006), é necessária a seleção de genótipos com pouca
necessidade de baixas temperaturas (Antunes & Raseira,
2006) e a realização de estudos de adaptação a regiões
com potencial para produção de mirtilo.
Conclusões
1. Na região de Pelotas, RS, pode-se recomendar o
cultivo das cultivares de mirtilo Bluebelle, Briteblue e
Bluegem.
2. As cultivares Bluebelle, Briteblue e Bluegem
apresentam maior produção, número de frutos por
planta e maior produtividade.
3. Não há diferenças entre as cultivares, quanto aos
teores de sólidos solúveis totais, massa de matéria
fresca e diâmetro longitudinal de frutos.
Agradecimentos
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico, pela concessão do auxílio fi nanceiro e
bolsas de pesquisa; à Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado do Rio Grande do Sul, pelo apoio fi nanceiro.
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